Kill Bill Vol. 1 e Vol. 2 - Resenhas

Tentarei colocar resenhas dos filmes do Tarantino por aqui. Pegarei o que achar no Google. Começarei com 2 do site www.omelete.com.br

Não é um site muito jornalístico. É mais um fan site. Mas é muito bom e informativo.

Kill Bill: Volume 1



Por Érico Borgo - http://www.omelete.com.br

22/4/2004



Finalmente! Depois de MESES de atraso injustificado - toda a América Latina já assistiu àprodução -, chega ao Brasil Kill Bill - Volume 1, a primeira parte do quarto filme de Quentin Tarantino.



Quem conseguiu esperar e não cedeu àtentação de comprar o filme pirata ou baixá-lo pela Internet não deve se decepcionar. Bastam poucos segundos do filme pra sentir que Tarantino está volta. Os seis anos desde Jackie Brown (1997) são plenamente recompensados logo nas cenas iniciais. Conforme a primeira parte do longa-metragem se desenrola, lentamente revelando a trama - de forma desordenada -, fica claro o motivo do sumiço do cineasta. Tarantino está obcecado.



O diretor reproduziu nos mínimos detalhes os filmes de kung fu das décadas de 60 e 70. Não faltam efeitos sonoros de seriados, sobras de fimes do Godzilla e homenagens aos astros, estéticas e situações. O resultado é brilhante!



Dividido em dois filmes, Kill Bill narra a história de uma ex-assassina de aluguel (Uma Thurman) que desperta de um coma com apenas uma motivação: MATAR Bill (David Carradine). O alvo de sua vingança cometeu uma terrível traição bem no dia em que a Noiva (Thurman) se casaria. Lucy Liu, Daryl Hannah, Vivica A. Fox e Michael Marsden completam o elenco e interpretam seus antigos colegas de profissão, que por participarem do massacre também enfrentarão a sua ira.



Tarantino-Fu



Há passagens de um brega incrivelmente bom, outras que rivalizam com Pulp Fiction (1994) de tão bacanas. Há referência pop pra todos os gostos: Akira, Bruce Lee, Besouro Verde, menininhas colegiais (uma das maiores taras dos japoneses) e até o Charlie Brown, do Snoopy, dá as caras. Além disso, a cuidadosa seleção da trilha sonora, uma das marcas registradas do cineasta, é impecável tornando quase impossível resistir àtentação de comprar o CD logo em seguida.



Todo o elenco está perfeito e Uma Thurman, como a vingativa “Mamba Negra” (cujo nome verdadeiro só será revelado no Volume 2), rouba o show. Mais impressionante ainda é pensar que ela tinha acabado de ter um filho antes das filmagens e pouco tempo depois já estava lutando kung-fu com quase uma centena de guerreiros da yakuza, a máfia japonesa. Aliás, a seqüência é muuuuuuuuuito mais empolgante que a luta de Neo contra os Smiths em Matrix reloaded, e não tem efeitos de computação gráfica, mais uma exigência de Tarantino para manter a aura de nostalgia que cerca a produção. Apenas para filmar esta seqüência, foram 6 semanas, tempo em que o diretor filmou Pulp Fiction inteiro.



São justamente as cenas de ação como a citada acima que garantem ao filme seus melhores momentos. Tarantino já tinha avisado: está cansado de filmes de pancadaria absurda sem sangue. E ele cumpre suas promessas. Há jatos e jatos do líquido jorrando de cortes, mutilações e contusões.



Surpreendentemente, não é nojento. É que a textura do sangue escolhida pelo diretor simula a dos antigos filmes de artes marciais e parece meio caricata. É impressionante também a duração das seqüências de kung fu. Só a dos 88 yakuza deve ter pelo menos meia-hora, até o confronto final. No entanto, a criatividade do cineasta garante que o espetáculo jamais fique repetitivo. Ele apaga a luz, brinca com sombras, torna tudo branco e preto, volta a cor, troca de cenário, pára tudo pra inserir um momento marcante… enfim, como já comentei acima, está em sua melhor forma.



Outro momento memorável é a cena em animê, que Tarantino fez questão de dirigir. “Por que eu passaria algo tão divertido para outra pessoa?”, revelou em uma entrevista. Trata-se de um dos momentos mais violentos de todo o filme, que conta a origem de O-Ren Ishii (Lucy Liu), uma das mais perfeitas assassinas do mundo. A cena, foi produzida pelo mesmo estúdio de Ghost in the Shell, traz toda a estética dos desenhos animados da Terra do Sol Nascente, com a maior carga de dramaticidade e violência possíveis.



Os pontos negativos da produção são poucos. Os diálogos “tarantinescos” têm pouco espaço na primeira parte de Kill Bill pela natureza da história. Felizmente, a segunda parte, Kill Bill - Volume 2, tem foco quase total nessa excelente característica do autor. Aliás, a existência desse “segundo tempo” é justamente o outro ponto fraco. Cortado ao meio, Kill Bill deixa os espectadores loucos de vontade de saber o que acontece na segunda parte. Ainda mais porque a frase final é uma revelação arrepiante. Pior mesmo é imaginar que o Volume 2, atualmente em cartaz nos Estados Unidos - só chegará ao Brasil em OUTUBRO…



Enquanto isso, é bem provável que o cineasta já tenha decidido se vai ou não continuar a saga. Tarantino tem revelado durante entrevistas que está cheio de idéias para uma seqüência, que pode ser em forma de animação, um prelúdio ou mesmo algo que só terá que esperar 10 ou 15 anos para acontecer, até que Ambrosia Kelley, a atriz-mirim que interpreta a filha de Vernita Green (Vivica A. Fox) no primeiro filme, cresça. É isso aí. Tarantino não quer substituir a atriz de nove anos na continuação (!), mas precisa dela com pelo menos 20 anos de idade! Coisas de um diretor obcecado…

Kill Bill: Volume 2



Por Marcelo Hessel - http://www.omelete.com.br

7/10/2004



Em 1997 o nerd tentou crescer. Como os dois filmes anteriores de Quentin Tarantino, Jackie Brown prestava respeito ao imaginário dos anos 1970 - no caso, a onda negra da blaxploitation - mas sinalizava uma tentativa de amadurecimento. No lugar dos piadistas caricatos que matavam por acidente, entrou a serena aeromoça vivida por Pam Grier. A crítica e parte dos fãs não gostaram. Afinal, era um drama de alforria feminina dentro do cômico universo machista que todos aprendemos a idolatrar.



Tarantino sentiu o baque e ficou seis anos sem filmar. Aprendeu a lição. Os dois Kill Bill são uma segunda tentativa de transição. De novo, uma história feminista. De novo, uma personagem sensível, intrusa na sanguinolenta picotagem do cineasta. Por que desta vez deu certo? Em 1997 ele não tinha a Noiva Uma Thurman.



Em março de 2004, algumas semanas antes do lançamento de Volume 1 (2003), o crítico Michel Laub já percebia na revista Bravo! a presença dela. “Movida por uma razão nobre, o instinto materno ferido; falando uma linguagem econômica, que não desperdiça uma frase sequer; transpirando uma sabedoria cosmopolita, respeitosa com tradições alheias - a “noiva” é uma criatura oposta a quase tudo o que se apontou até aqui como típico do seu criador”, diz ele. Laub defendia que a personagem podia até ter algo de Uma, mas tinha pouco de Quentin.



Agora, diante do Volume 2 (2004), descobrimos que a Noiva tem, sim, muito de Uma - atriz cuja gravidez o diretor esperou pacientemente acontecer antes de filmar. Exatamente por ver a sua musa real e atual namorada espelhada na ficção é que Tarantino amadureceu.



Explode coração!



Se o frenesi da primeira parte, recoberta de dezenas de corpos mutilados, dava pouco espaço para a introspecção, o espírito bandoleiro e crepuscular da segunda, vingança digna dos melhores faroestes, põe a mulher no seu devido altar. O filme é uma declaração de amor. Uma profusão de sexualidade que vai desde símbolos fálicos - a flauta de Bill (David Carradine) e a lanterna no caixão são dois emblemáticos -, passando pelo inegável sadismo do mestre chinês (Gordon Liu), até a famosa devoção do diretor pelos dedos tortos dos pés de Uma.



Repare que ela não é mais o fantoche de 1994 que dançava twist e levava injeções de adrenalina no peito. O titereiro teve que abrir mão do controle, dar vida àNoiva. Ela se transforma, assim, no personagem mais humano da vasta galeria bizarra de Tarantino. E isso pode soar estranho aos fãs - não se sinta ranzinza se preferir o espetáculo visual do Volume 1 - mas representa o grande salto do cineasta em direção àverdadeira autoralidade.



Seis anos de jejum deixaram-no inquieto. Não estranhe se Tarantino tropeçar na prolixidade, tentar dizer tudo ao mesmo tempo. No Volume 2 ele encavala músicas, uma atrás da outra, sem a parcimônia usual, introduz dispensável discurso nerd sobre super-heróis no momento mais inoportuno e, inclusive, não consegue se decidir entre três letreiros diferentes no fim do filme. Mas a sua homenagem a Uma é certeira. Basta a cena do choro final para perceber o bem que a paixão faz a esse homem. Explode coração!